Thursday, September 15, 2005

Rufus Wainwright: Ovação ao Umbigo!



"I call what i do entertainment. You're there. I'm the show. I'm here to serve you."


Podia bem ser qualquer coisa parida dos bíceps do nosso Robbie-freak-show-Williams. Mas não. Não vamos por aí...
É verdade que ambos têm um umbigo do tamanho do mundo. É verdade que, se pudessem, voltavam a escrever a lenda do tal do Narciso...Bem refastelados no seu trono de luxúria e diamante, olhando com desdém para a mortal populaça.
Mas as comparações param mesmo aqui.

Quem fala assim é Rufus Wainwright.

Rufus, o prince charm canadiano adoptado pelo Tio Sam.
Rufus, o trovador dos cigarros e do leitinho com chocolate.
Rufus, um dos mais geniais songwriters da actualidade.

Não é que seja uma fã devota ou uma consumidora ávida da sua obra. Não sou, de facto. Nem é que aprecie incondicionalmente tudo o que este menino-prodígio faz/é/pretende ser. De todo. Há pormenores que chegam a roçar os limites da (minha) tolerância...Só não descambam na leve irritação, porque os prós pesam mais na balança.
E talvez sejam mesmo todas estas incoerências que me levam a guardar um lugar cativo para Rufus no meu cardápio musical. E a pensar que o homem tem um "je ne sais quoi" que encanta e atrai. E a achar que merece estar num blog com tão bom gosto!

Posto isto, reservo-me o direito de não escrever sobre um álbum, em especial. Porque desde o CD de estreia homónimo a "Want" (I e II), passando por "Poses" (globalmente, o meu favorito)...Rufus Wainwright compõe sobre si e (atrevo-me a dizê-lo), cada vez mais...para si. Cada disco assume-se como um fragmento de um universo muito íntimo e pessoal.
Entenda-se ou não. Ame-se ou odeie-se. É aquilo, ponto!

Concordo que não seja uma leitura muito consensual... mas é a minha. Não me parece possível criticar os álbuns ou a carreira de Rufus em termos de melhor ou pior. Quanto muito, acha-se é mais ou menos piada àquela fase da sua vida, à pedrada do momento, à mood com que acordou...

Seja como for, Rufus Wainwright é (e isso não discuto) único. Edição limitada. Uma referência no universo dos cantautores. Esbanja confiança, "savoir faire" e talento a rodos. Exibe descaradamente um perfeito domínio da técnica e forma, lambuzado com poemas agridoces que arquitecta como ninguém. É o homem por detrás de grandes canções. Canções intemporais. Daquelas em que o tempo não toca.

E depois... A Voz...A voz angelical, de menino mimado e poeta boémio. A voz andrógena, que sai daquela figurinha dandy e vai deambulando...Altiva e dolente... Enfadada e romântica... Suspirante e cheia de volteios de tenor...Por vezes, demasiado esticada no tempo, demasiado alargada nos solos (apetece dizer, em certas ocasiões, "mas este tipo não se cala?!").

É um pouco como o "senão" da sua obra: Rufus começou demasiado bem. E continua bem, com a m(a)estria a que nos habituou. Mas o efeito-surpresa, a ideia de que nos vai oferecer mais qualquer coisa, a modos que desapareceu...Se existe uma evolução palpável, está mais nos detalhes mimados e no crescente delírio dos arranjos orquestrais...do que no poeta-cantor em si. Ah, e na distância!...O umbigo cresceu, o palco subiu de altura...E a reencarnação pós-moderna de Narciso que se cuide...Não temos muita paciência para mitos forjados antes de tempo...

Ainda assim, acredito que vale sempre a pena estar atento. Melting pot de influências que foi bebendo ao longo dos anos, Rufus Wainwright consegue ser meloso e dramático...Clássico e levemente rockeiro...Génio da pop-ópera ou anfitrião de atmosferas cabaretianas. Mágico. Intenso.

Ao vivo, é tudo (mesmo tudo!)...menos entediante. Quem esteve no Coliseu, sabe do que estou a falar. Depois de assegurarem brilhantemente a 1ª parte dos putos Keane, Rufus e C.ª regressaram ao mesmo sítio, no dia 25 de Abril (repetindo a dose na Inbicta) para um concerto, no mínimo, memorável...Lembro-me da apoteose nos temas mais "catchy"...Lembro-me de me inquietar na cadeira, nos tais solos que parecem não ter fim... Mas - para o bem e para o mal - , fica a recordação daquele final! Rufus de tanga, meus senhores! E asas de borboleta! E os seus muchachos e muchachas a seguirem-lhe o exemplo! E eu que não queria acreditar naquilo! Quiçá inspirado pelo nosso feriado, Rufus libertou toda a bichice que há em sim...E foi essa a marca que deixou. Tudo muito divertido...Epá, mas tudo demasiado gay! (não é um comentário homofóbico, apenas não me ocorre outra palavra)...

(...)

Reparo agora que me estou a esticar...Para terminar com algo mais prático e para que este post não se fique pelo blábláblá...Fica a recomendação de um DVD que me chegou às mãos ("A Portrait of Rufus Wainwright") e que me parece uma peça fundamental para perceber melhor o «admirável mundo novo» deste estranho canadiano. A edição repesca momentos dos 2 volumes de "Want" (entre telediscos e apresentações ao vivo, o que por si só faz com que a compra não seja em vão), apresentando ainda uma viagem biográfica, espécie de "live on tape", muito interessante.

Da casa aos bastidores dos concertos...Da relação com a banda à família...Da vida libertina, dos excessos, do deboche existencialista...Às grandes causas e às coisas simples da vida...Está lá tudo! É um óptimo exercício de psicanálise, contando ainda com testemunhos de músicos como Elton John, Neuil Tennant (Pet Shop Boys) e Jake Shears (dos infames Scissor Sisters!).

Para fãs ou curiosos. Entenda-se ou não. Ame-se ou odeie-se. Rufus é aquilo, ponto!

Pontuação: 8,5 -10 (pela carreira e não por algo em especial)

Vanda Simões



Sunday, September 11, 2005

DOVES – Some Cities



Os Doves são uma das minhas bandas favoritas. Tomei conhecimento com a música deste trio de Manchester através da Radar (97.8 FM) e não foi difícil ficar cativado pelo pop melódico baseado em guitarras mas que também se alonga a outros géneros como a electrónica ou mesmo bossa-nova (como no single There Goes the Fear do álbum The Last Broadcast).
Os Doves editaram o seu álbum de estreia em 2000. Lost Souls era um disco sombrio mas cativante, repleto de excelentes canções (Catch the Sun, The Cedar Room ou o fabuloso Sea Song) que acabou nomeado para o Mercury Prize (nesse ano o vencedor foi Badly Drawn Boy com The Hour of the Bewilderbeast).
Em 2002 surge The Last Broadcast. No segundo álbum, os Doves tornam a sua música mais expansiva e alegre e trazem canções épicas como a já citada There Goes the Fear, Caught by the River, Pounding, Words ou The Sulphur Man. Com The Last Broadcast, os Doves voltam a ser nomeados para o Mercury Prize (venceu Ms. Dynamite com A Little Deeper) mas desta vez gozam também de algum reconhecimento internacional, aparecendo nas listas de melhores discos do ano um pouco por todo o Mundo, inclusive em Portugal (Blitz).
As expectativas eram então muitas para o terceiro álbum dos Doves. A banda tinha consciência disso, como comprava o facto de ter lançado Somes Cities, três anos após o seu antecessor. Some Cities é mais sombrio e menos imediato que The Last Broadcast. Após uma primeira audição pode parece uma desilusão mas é puro engano. Este é daqueles discos que vai "crescendo" com as sucessivas audições. Black and White Town e Snowden chamam a atenção logo de início (talvez por isso tenham sido os primeiros singles) mas há mais pérolas neste disco. Walk in Fire (sequela perfeita para There Goes the Fear), One of These Days, Someday Soon e Sky Starts Falling são grandes temas que tornam Some Cities como mais um passo seguro na carreira dos Doves apesar de, pessoalmente, ainda preferir The Last Broadcast...

Nota: 8/10

Thursday, September 08, 2005

Thunderbirds Are Now!

Não vou escrever da (maravilhosa) série que eram os Thunderbirds (que os estúdios de Hollywood mais uma vez conseguiram estragar), mas sim de uma banda da terra dos carros nos Estados Unidos da América, Detroit, que também alberga bandas como os The White Stripes e os The Von Bondies.

Thunderbirds Are Now! são uma banda que vem incluindo no "pack" neo-pos-punk que tanto sucesso (ainda) faz. Este quarteto que tem no seu vocalista (Ryan Allen) uma grande admiração pelos Les Savy Fav, da aí alguma influencia da banda neste álbum.

A primeira vez que ouvi Justamustache, achei que é um álbum com guitarras electrizantes e propulsadas por alguns sons de electrónica. Talvez seja o som que mais se ouve no século XXI que eu tanto gosto. Album com musicas como
Better Safe Than Safari, 198090 (Aquatic Cupid's) e Eat Your City, criam a ideia que os Thunderbirds Are Now! não copiam ninguém do cenário actual.

A ouvir com atenção...

Nota: 7,5 / 10


Thursday, September 01, 2005

Antics - Interpol


Tudo bem...Os mancebos não serão estreantes nestas andanças. Não foram nem a surpresa de 2005, nem os debutantes tirados da cartola o ano passado...Trocaram o low-profile com cheiro a garagem por fatinhos de cerimónia, follow-spots e fotos escarrapachadas em tudo quanto é sítio...E são criticados por isso (a dor de cotovelo é f*****) ... Estão hoje muito mais expostos, muito mais arrojados e tresandam a glamour!E depois???

Tudo isto para dizer que, apesar de todos os supostos "mas"...Era para mim incontornável escolher «Antics», a 2ª obra-prima dos nova-iorquinos Interpol, para me inaugurar neste vosso cantinho. Conseguiu igualar Jeff Buckley no trono da minha colecção de cds..e só isso deve querer dizer qualquer coisa!

"Antics" é daquelas raridades que encerra vários singles e sub-singles e sub-sub-singles...Cada tema é melhor que o outro e desdobra-se em variações de tal maneira surpreendentes que o álbum acaba por não se esgotar nas 10 faixas alinhavadas.
"Antics" tem tudo! Tem rock e punk e gótico. Tem força crua e bruta, para logo de seguida nos atirar à cara com a finesse esculpida pela maturidade. É um trabalho inteligente, adulto, com recalcamentos bem vincados da explosão própria da juventude.

Há quem diga que este é um sucedâneo menor de "Turn on the bright lights"...Que os Interpol colocaram a fasquia demasiado alta...Não concordo. Penso que os rapazes se aprumaram neste álbum, oferecendo um ramalhete de canções igualmente deliciosas.
Ouçam, com urgência!, se ainda não o fizeram...Aceitem "Evil", o brilhante cartão de visita...e aventurem-se por aí fora. Descubram pérolas como "NARC", "Take you on a cruise", "Slow Hands" ou "Lenght of Love". Parem em "Not even Jail", para mim o melhor tema deste cd. Entra nos tímpanos sem pedir licença e não desgruda.Mesmo!

Dizem as más línguas que Interpol não são mais que voz de Ian Curtis com banda sonora dos The Chameleons...Revivalismos? Influências? Bom gosto? So what??! Qual o pecado de reinventar aquilo que se ouvia na puberdade?Não foi isso que nos moldou as escolhas e a personalidade? Pois é...A dor de cotovelo é f*****...

Kesseler, Paul Banks e Cª. têm apenas um defeito. São filhos da Big Apple e só isso lhes retira o título da banda mais «post-punk» do momento.
Mas o «negrume nevoeirento londrino», como li algures, está lá.
E nós gostamos tanto dele...

Vanda

Antics-Interpol (9,9 - 10)

Exclusivo Mundial!

Tenho o prazer de anunciar a entrada de um novo membro no Blog!!!!
O seu nome é Vanda (se publicasse uma foto dela os clicks neste site subiam em flecha, mas está aqui para escrever, por isso não peçam fotos)
Pois é meus amigos é uma mulher (com M maiúsculo) aclamada guionista mundial (cof cof) e talvez a primeira mulher a criticar musica nos blogs nacionais (posso estar a cometer um erro) .

Em nome do Blog (e tenho a certeza que falo por todos) desejo-te a melhor e maior das felicidades.

Boa sorte e bons posts.

Dungen - Ta Det Lugnt




Eu bem tento acompanhar a letra da música
"Panda", mas não consigo! A não ser que sejam Suecos porque não vão perceber nada! Gustav Estjes aka Dungen, filho de violinista e professor de musica, desde de pequeno que toca. Ora vejamos: ele toca bateria, guitarra, órgão, baixo e vejam até canta! (basicamente é um one man show). "Ta Det Lugnt" (o titulo traduzido de sueco para inglês com a ajuda do não fiável Google é "Grab the Calm") é muito influenciado por (acid) rock psicadélico dos anos 60/70. Uma revista on-line, diz que Dungen inventou um novo estilo musical, o "folkrockpsych", quem sou eu para dizer o contrário, mas gosto muito do albúm, apesar de não perceber nada de Sueco, Ta Det Lugnt soa-me bem.
Link para ouvir o single: Panda


Dugen - Ta Det Lugnt:
7,5 /10